Em um movimento que pegou os mercados globais de surpresa, Washington e Pequim anunciaram em maio de 2025 uma trégua temporária em sua extenuante guerra comercial. Após meses de escalada de tarifas, ameaças e incerteza que lançaram uma sombra sobre a economia mundial, as duas maiores superpotências do planeta decidiram, por ora, baixar as armas. O acordo, embora limitado a um prazo de 90 dias, foi recebido com uma onda de alívio e otimismo, impulsionando as bolsas de valores de Nova York a Xangai.
Contudo, para o investidor atento, o empresário com operações globais e o analista geopolítico, a euforia inicial rapidamente dá lugar a uma questão crucial e complexa: este acordo representa o início de uma paz duradoura ou é apenas uma pausa tática em um conflito muito mais profundo e estrutural? A resposta a essa pergunta pode definir a trajetória da economia global para o restante da década.
Nesta análise, vamos mergulhar nas complexidades deste acordo, explorando o cenário que o tornou necessário, os impactos imediatos e, mais importante, os desafios monumentais que precisam ser superados para que esta trégua frágil se transforme em uma relação comercial sustentável.
[IMAGEM: Um aperto de mão simbólico, com as mangas das camisas exibindo as bandeiras dos EUA e da China, sobre um fundo de contêineres de carga em um porto movimentado.]
Para entender a importância do acordo, é preciso primeiro recordar a brutalidade do conflito. A guerra comercial EUA-China, intensificada sob a administração Trump, não era apenas sobre balanças comerciais; era uma disputa pela supremacia tecnológica, influência geopolítica e o futuro da ordem econômica global.
No início de 2025, a situação havia atingido um ponto crítico. Os Estados Unidos impuseram tarifas punitivas que chegavam a 145% sobre uma vasta gama de bens chineses, visando desde eletrônicos até equipamentos industriais. A China, por sua vez, não recuou, retaliando com tarifas de até 125% sobre produtos americanos, atingindo duramente setores como a agricultura e a indústria automobilística.
O resultado foi um caos previsível:
Cadeias de Suprimentos Rompidas: Empresas globais, que por décadas construíram complexas redes de produção, viram-se forçadas a redesenhar suas operações a custos exorbitantes.
Inflação para o Consumidor: O custo das tarifas foi, em grande parte, repassado aos consumidores americanos e chineses, aumentando o preço de produtos do dia a dia e alimentando pressões inflacionárias.
Volatilidade nos Mercados: Os mercados financeiros operavam em um estado de alerta constante, reagindo nervosamente a cada tweet, declaração ou rumor vindo de qualquer um dos lados.
Foi nesse cenário de dor econômica mútua e sob intensa pressão de seus próprios setores empresariais que os negociadores se reuniram em Genebra.
O anúncio de 12 de maio de 2025 foi um divisor de águas. Conforme o comunicado oficial da Casa Branca (link genérico para comunicados, como seria esperado), os termos da trégua foram claros e imediatos:
Redução Tarifária dos EUA: Os Estados Unidos concordaram em reduzir drasticamente as tarifas sobre bens chineses, de um pico de 145% para 30%, por um período de 90 dias.
Redução Tarifária da China: A China respondeu reduzindo suas tarifas retaliatórias sobre produtos americanos, de 125% para 10%.
Suspensão de Barreiras Não Tarifárias: Crucialmente, Pequim também concordou em suspender restrições à exportação de minerais críticos e terras raras, que vinham sendo usadas como arma de pressão contra a indústria de alta tecnologia dos EUA.
O Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o Representante Comercial, Jamieson Greer, apresentaram uma frente unida, destacando a produtividade das conversas. “Fizemos progressos substanciais”, afirmou Bessent, enquanto Greer notava que a rapidez do acordo sugeria que “as diferenças talvez não sejam tão grandes quanto se pensava”.
A reação dos mercados financeiros foi instantânea e eufórica. Conforme noticiado pela CNN Business (link genérico para a seção de negócios), o anúncio provocou um dos maiores ralis do ano:
O Dow Jones Industrial Average disparou mais de 2%.
O S&P 500 e o Nasdaq Composite registraram ganhos ainda mais expressivos, subindo quase 3% e 3,5%, respectivamente.
Para além de Wall Street, o alívio foi sentido na economia real. Empresas importadoras viram uma redução imediata em seus custos, oferecendo um potencial alívio para a inflação. Setores como o de tecnologia e varejo, altamente dependentes de componentes e produtos chineses, puderam respirar um pouco mais aliviados. Na China, o setor agrícola e outras indústrias que dependem de insumos americanos também celebraram a trégua.
Apesar do otimismo, os analistas mais experientes alertam: a trégua tarifária é a parte fácil. Os 90 dias são uma janela crítica para negociar as questões espinhosas e estruturais que estão na raiz do conflito. E a lista é longa e complexa:
Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia: A principal queixa dos EUA é a alegação de roubo sistemático de propriedade intelectual e a prática de forçar empresas americanas a transferir tecnologia para parceiros chineses como condição de acesso ao mercado.
Subsídios Estatais: Washington acusa Pequim de conceder subsídios massivos a suas empresas estatais, criando uma concorrência desleal contra companhias privadas estrangeiras.
Acesso ao Mercado: Empresas americanas, especialmente nos setores de finanças e tecnologia, ainda enfrentam barreiras significativas para operar livremente na China.
Segurança Nacional: Questões como o papel da Huawei na infraestrutura 5G e o controle sobre tecnologias sensíveis permanecem como pontos de alta fricção.
Tai Hui, estrategista-chefe da J.P. Morgan Asset Management, resumiu o sentimento do mercado em uma nota citada pela CNBC (link genérico para a fonte): “A magnitude da redução das tarifas foi maior do que o esperado, refletindo que ambos os lados reconhecem que as tarifas prejudicam o crescimento global. No entanto, 90 dias podem não ser suficientes para um acordo detalhado, mas a pressão para continuar negociando permanece.”
Para o Brasil, a guerra comercial foi uma faca de dois gumes, e a trégua não é diferente. Durante o auge do conflito, o agronegócio brasileiro se beneficiou enormemente, aumentando as exportações de soja para a China para preencher o vácuo deixado pelos produtores americanos.
A trégua, e uma eventual paz, pode reconfigurar esse cenário. A volta dos produtos agrícolas dos EUA ao mercado chinês aumenta a concorrência para o Brasil. Por outro lado, a desescalada do conflito reduz a volatilidade global, fortalece o real frente ao dólar e melhora o ambiente para investimentos estrangeiros no país, o que é positivo para a economia como um todo. A posição do Brasil, portanto, é de observador atento, precisando de agilidade para se adaptar a qualquer um dos cenários.
O acordo EUA-China de maio de 2025 é, sem dúvida, o desenvolvimento geopolítico e econômico mais significativo do ano. Ele representa um passo crucial para longe do abismo de uma recessão global autoinduzida. No entanto, sua natureza temporária serve como um lembrete constante de sua fragilidade.
O sucesso ou fracasso das negociações nos próximos 90 dias determinará o futuro. Se os negociadores conseguirem construir confiança e encontrar um terreno comum nas questões estruturais, poderemos estar no início de uma nova era de cooperação pragmática. Se falharem, o mundo poderá mergulhar de volta em um ciclo de retaliação ainda mais prejudicial.
Para investidores e líderes empresariais, a mensagem é de cautela estratégica:
Aproveite o Alívio, mas Não Desmonte as Defesas: A trégua oferece uma janela para otimizar operações, mas a diversificação da cadeia de suprimentos, iniciada durante a guerra, continua sendo uma estratégia prudente.
Monitore os Sinais, Não Apenas as Manchetes: Fique atento aos detalhes das negociações sobre propriedade intelectual e acesso ao mercado, pois eles serão os verdadeiros indicadores do progresso.
Prepare-se para a Volatilidade: O caminho para um acordo permanente será acidentado. Esteja preparado para a possibilidade de que as tensões possam ressurgir rapidamente.
O mundo respira aliviado, mas prende a respiração. O relógio está correndo, e o destino da economia global pode muito bem ser decidido nos próximos 90 dias.